terça-feira, 18 de outubro de 2016

A Educação do Saneamento



 A EducAção do Saneamento

Cada vez mais o tema de saneamento está em debate no nosso dia a dia, seja na promessa  de campanha dos políticos, seja na mídia, através dos jornais, revistas, documentários, nas redes sociais, bem como a população cobrando do governo por estações de tratamento de Esgoto.
Certamente é positivo toda essa “popularização” do tema saneamento,  pois nunca se escutou tanto as pessoas querendo mudar esta  triste realidade, que é viver num mundo sem saneamento adequado, levando contaminantes para nossos Rios , Mares e Lagoas resultando em doenças para a população.
Mas o que se esta sendo feito para mudarmos esse cenário?
Muito se tentou e se gastou em nosso País, em cidades que tentaram tratar o saneamento através de ETEs (estações de tratamento de esgoto), algumas dessas cidades realmente conseguiram implantar sistemas de saneamento eficientes  que tratam os efluentes de toda uma população  em um único sistema. Contudo,  como uma estação de tratamento de efluentes requer situações complexas, políticas, econômicas e sociais que vão desde a drenagem pluvial,  uma equipe técnica de vários profissionais qualificados, estimativas de demandas hídricas, bombas elevatórias, maquinário, investimento, burocracia, quilômetros de dutos, muito investimento $$ e altos custos para operação destes sistemas de saneamento entre outros tantos fatores adversos.
Com este panorama que envolve a realização de uma Estação de Tratamento de Esgoto, e fazendo uma análise realista, fica claro para entendermos o porquê, que nossas cidades infelizmente não conseguem ter o tão falado Saneamento Básico.
A solução para o Saneamento Básico?
A solução é primeiramente simplificarmos esses sistemas, com investimentos fundamentais. O Básico do Saneamento é a educação,  precisamos “formAção” desde as escolas de ensino fundamentais, cidadãos que saibam a importância que é termos recursos hídricos com qualidade.
E algo muito importante a Mudança de Paradigmas, o saneamento deve ser encarado como uma fonte de energia, pois com tratamento adequado ele se transforma num produto que pode ser energia elétrica, áreas verdes, e inclusive pode produzir alimentos.
Quando não existe tratamento é que estamos transformando nossos esgotos em doenças em fontes de contaminação e em maiores gastos públicos em saúde.
Crianças que tenham a oportunidade de nadar, surfar, remar, brincar em água limpa. Que dêem valor a esses recursos naturais, professores que saibam relacionar o tema de saneamento, com cálculos de volume, com aulas de ciência com gestão doméstica, geografia em fim, todas as disciplinas poderiam  abordar em algum momento o tema saneamento.
A relação: Árvores X Água X Saneamento.
Para termos água de qualidade precisamos da presença de árvores, mesmo a máquina mais eficiente e as melhores tecnologias não tem a capacidade de absorver águas e nutrientes que uma  árvore desempenha na natureza, portanto quando estamos falando em saneamento devem estar contempladas áreas com a presença de árvores.

O Saneamento que dá certo:
Os exemplos de sistemas de saneamento que mais dão certo no mundo são sistemas de saneamento descentralizados, ou seja, são sistemas de saneamento que tratam no local os efluentes de seus habitantes em menor escala.

Existem diversos sistemas que estão dando muito certo, desde os mais tecnológicos, com filtro UV, tratamento com Ozônio, os Living Machines sistemas complexos que podem gerar energia e produção de alimento e peixes. Existem biodigestores, tanques de evapotranspiração, banheiros compostáveis, ou banheiros-seco que utiliza serragem (carbono). As bacias de evapotranspiração, Fitorremediação, zona de raízes, a inovadora vermicompostagem e as fascinantes Flow  Forms. Em fim, muitos profissionais querem “inventar” soluções, auto promovendo seus sistemas, mas a  grande verdade é que há mais de 2 mil anos atrás, os egípcios já se utilizavam de saneamento local, as margens do Rio Nilo, tratando localmente seus dejetos e produziam alimentos. Atrevo-me a dizer que antes deles outros povos já encaravam o saneamento como um recurso.

Respondendo aos questionamentos no início do texto, existe sim soluções para o saneamento, basta mudarmos a maneira de encararmos o tema.  Recentemente fiz uma tese comparando sistemas de saneamento em distintas escalas e pude comprovar que quanto mais próximos lidamos com o tema saneamento, mais importância  e satisfação damos ao tema e por  conseqüência resultam em sistemas eficientes e com menores problemas de  operação.
Para essas mudanças temos todas as ferramentas em nossas mãos, numa escala doméstica as fossas sépticas quando bem dimensionadas, respeitando o nível do lençol freático, e com a presença de um jardim doméstico, podem ter uma ótima eficiência na remoção de contaminantes, da mesma forma que em uma escala regional, as companhias de saneamento que  ainda são imprescindíveis em áreas totalmente urbanizadas e quando não se tem espaço para tratar no local,  poderiam  batalhar para  adquirirem áreas verdes,  em parceria com o governo e outras empresas para abastecer de nutrientes essas áreas verdes, criando parques, bosques e praças, deixando mais beleza natural para regiões com ilhas de calor, com escassez de árvores, permeabilidade do solo,  sombras e identidade.  

Precisamos ser como o fluxo da água, mudando de caminhos e estado, mas sempre se renovando para atingir sua essência e seu estado mais puro e assim transformando nossos problemas em soluções, nossas doenças em curas e alimento. Nossa educação em ação, nossa teoria em prática e nossos passivos em legados.  


Por Felipe Hoffmann, Coordenador da Morada Ekoa, Eng.e Mestre em Sustentabilidade.