A EducAção do
Saneamento
Cada vez mais o tema de
saneamento está em debate no nosso dia a dia, seja na promessa de campanha dos políticos, seja na mídia,
através dos jornais, revistas, documentários, nas redes sociais, bem como a
população cobrando do governo por estações de tratamento de Esgoto.
Certamente é positivo toda essa
“popularização” do tema saneamento, pois
nunca se escutou tanto as pessoas querendo mudar esta triste realidade, que é viver num mundo sem
saneamento adequado, levando contaminantes para nossos Rios , Mares e Lagoas
resultando em doenças para a população.
Mas o que se esta sendo feito
para mudarmos esse cenário?
Muito se tentou e se gastou em
nosso País, em cidades que tentaram tratar o saneamento através de ETEs (estações
de tratamento de esgoto), algumas dessas cidades realmente conseguiram
implantar sistemas de saneamento eficientes
que tratam os efluentes de toda uma população em um único sistema. Contudo, como uma estação de tratamento de efluentes
requer situações complexas, políticas, econômicas e sociais que vão desde a
drenagem pluvial, uma equipe técnica de
vários profissionais qualificados, estimativas de demandas hídricas, bombas
elevatórias, maquinário, investimento, burocracia, quilômetros de dutos, muito
investimento $$ e altos custos para operação destes sistemas de saneamento
entre outros tantos fatores adversos.
Com este panorama que envolve a
realização de uma Estação de Tratamento de Esgoto, e fazendo uma análise
realista, fica claro para entendermos o porquê, que nossas cidades infelizmente
não conseguem ter o tão falado Saneamento Básico.
A solução para o Saneamento Básico?
A solução é primeiramente
simplificarmos esses sistemas, com investimentos fundamentais. O Básico do Saneamento é a educação, precisamos “formAção” desde as escolas de
ensino fundamentais, cidadãos que saibam a importância que é termos recursos
hídricos com qualidade.
E algo muito importante a Mudança de Paradigmas, o saneamento
deve ser encarado como uma fonte de energia, pois com tratamento adequado ele
se transforma num produto que pode ser energia elétrica, áreas verdes, e inclusive
pode produzir alimentos.
Quando não existe tratamento é
que estamos transformando nossos esgotos em doenças em fontes de contaminação e
em maiores gastos públicos em saúde.
Crianças que tenham a
oportunidade de nadar, surfar, remar, brincar em água limpa. Que dêem valor a
esses recursos naturais, professores que saibam relacionar o tema de
saneamento, com cálculos de volume, com aulas de ciência com gestão doméstica,
geografia em fim, todas as disciplinas poderiam
abordar em algum momento o tema saneamento.
A relação: Árvores X Água X Saneamento.
Para termos água de qualidade
precisamos da presença de árvores, mesmo a máquina mais eficiente e as melhores
tecnologias não tem a capacidade de absorver águas e nutrientes que uma árvore desempenha na natureza, portanto
quando estamos falando em saneamento devem estar contempladas áreas com a presença
de árvores.
O Saneamento que dá certo:
Os exemplos de sistemas de
saneamento que mais dão certo no mundo são sistemas de saneamento
descentralizados, ou seja, são sistemas de saneamento que tratam no local os
efluentes de seus habitantes em menor escala.
Existem diversos sistemas que
estão dando muito certo, desde os mais tecnológicos, com filtro UV, tratamento
com Ozônio, os Living Machines sistemas complexos que podem gerar energia e
produção de alimento e peixes. Existem biodigestores, tanques de
evapotranspiração, banheiros compostáveis, ou banheiros-seco que utiliza
serragem (carbono). As bacias de evapotranspiração, Fitorremediação, zona de
raízes, a inovadora vermicompostagem e as fascinantes Flow Forms. Em fim, muitos profissionais querem
“inventar” soluções, auto promovendo seus sistemas, mas a grande verdade é que há mais de 2 mil anos
atrás, os egípcios já se utilizavam de saneamento local, as margens do Rio Nilo,
tratando localmente seus dejetos e produziam alimentos. Atrevo-me a dizer que
antes deles outros povos já encaravam o saneamento como um recurso.
Respondendo aos questionamentos
no início do texto, existe sim
soluções para o saneamento, basta mudarmos a maneira de encararmos o tema. Recentemente fiz uma tese comparando sistemas
de saneamento em distintas escalas e pude comprovar que quanto mais próximos
lidamos com o tema saneamento, mais importância e satisfação damos ao tema e por conseqüência resultam em sistemas eficientes
e com menores problemas de operação.
Para essas mudanças temos todas
as ferramentas em nossas mãos, numa escala doméstica as fossas sépticas quando
bem dimensionadas, respeitando o nível do lençol freático, e com a presença de
um jardim doméstico, podem ter uma ótima eficiência na remoção de contaminantes,
da mesma forma que em uma escala regional, as companhias de saneamento que ainda são imprescindíveis em áreas totalmente
urbanizadas e quando não se tem espaço para tratar no local, poderiam batalhar para
adquirirem áreas verdes, em
parceria com o governo e outras empresas para abastecer de nutrientes essas
áreas verdes, criando parques, bosques e praças, deixando mais beleza natural
para regiões com ilhas de calor, com escassez de árvores, permeabilidade do
solo, sombras e identidade.
Precisamos ser como o fluxo da
água, mudando de caminhos e estado, mas sempre se renovando para atingir sua
essência e seu estado mais puro e assim transformando nossos problemas em soluções,
nossas doenças em curas e alimento. Nossa educação em ação, nossa teoria em
prática e nossos passivos em legados.
Por Felipe Hoffmann, Coordenador da Morada Ekoa, Eng.e Mestre em Sustentabilidade.
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